quarta-feira, 20 de abril de 2011


Dragão do mar
Meu verso ascende
E se transcende
Em sua idílica redenção
Encanta o povo
Encanto novo
Verte a vida em oração

Meu verso é pouco
Um tanto rouco
Não se despede enquanto sede
Aos clamores da paixão

Não se despensa o pensamento,
Invento em esteio de vigia
O que me joga pelo vento
Que em riste vinga a poesia

Meu verso almeja sonhos
Que não se deixam povoar
Meus sonhos sem segredos
São tão temíveis
Que eu não insisto em revelar

Meu verso é bem extenso
Caminha em duas vias
Uma que vem de dia
Traz alegria no coração
A outra já vem de noite
Aos vãos murmúrios da solidão.

Entre tanto, pouco é o que me resta.
Lábios pr’além da boca que não presta,
Que não da trégua
Aos sentidos de ser
O que sou eu amor

E o que tem de dor e que não resta,
Invento um sonho para sonhar
Ao som do amor
que me ilude
traz a miúde
O Dragão do mar
Helder e Vinicius / 2005.

O silêncio das velas
As vezes caminho em silêncio para não despertar a poesia. Mas lhe confesso que muitas são as vezes em que ela me desperta trazendo nos braços os sorrisos da noite. A noite por sua vez tem esta capacidade de gerar certos encantos sobre a natureza das velas cujo o fogo me encanta.
As velas tem este modo de dançar na noite com seus cabelos de fogo que suavemente balançam aos sons do vento. Eu posso permanecer horas contemplando a dança das velas e o modo sutil com que elas me seduzem a poesia da noite. Meus versos são rebeldes e tem esta mania de me conduzir a atos imprevistos como escrever um poema falando da noite, das velas, do amor...
Ao passo em que me conecto a sensualidade do fogo das velas o tempo corre em minhas mãos ao costurar palavras semi nuas recobertas de ternura e saudade. Como são inconclusas as lágrimas do tempo sobre mim. Como intermináveis são meus gestos de carinho aos teus olhos que mesmo de longe procuro encontrar. Que em tudo isso ainda restam meus sentidos sobre o tempo e a natureza das flores que iluminam meu jardim de fogo. Como o amor dos astros sobre o universo que sem cessar segue infinito na eternidade.
Como me perco de mim mesmo ao jogar-me a arte em fogo sobre a destreza das velas que iluminam a noite e seu corpo em minha memória. Chego a sussurrar quietinho na cama teu nome em devoção ao silêncio das velas. As tenho em confidência recostadas em meu colo, enquanto você trilhando caminhos me pede baixinho, me deixa dormir...
E adormeço no mar contando estrelas no céu e soletrando palavras sobre a lua que assim como as velas sonham com a poesia que há em nós. E como tudo que há no mundo que se inventa sem pensar, invento o amor sobre o universo pra te dizer a luz de velas que me apaixonei sem perceber.
Helder /09

terça-feira, 19 de abril de 2011



Rebento
Gosto muito de fumar a poesia. As vezes me encanto ao degustar uma tragada profunda enchendo os pulmões de lirismo e posteriormente soltar no ar pela boca um universo em brasa sucumbindo em versos e letras de musica.
É muito bom sentar em uma cadeira de escritório, mirar as arvores na rua e perceber que na solidão reside a arte e sua incomparável nudez. A vejo ali, recostada no âmago do poeta seduzindo-o em silêncio à entrega desmedida de um momento em que os dois, ele e a inspiração, devotos do universo, se revelarão de relance ao se atirar em rodopios rumo ao infinito.
E neste imenso mar uterino descortinando a paisagem os dois amantes do universo bailarão por entre os astros e sentirão por seus corpos o ar da integração divina em que surgem as flores.
E por um instante neste jardim constelar repleto de cometas, luas, nebulosas, o poeta como um rebento se lançará eternamente na construção efêmera e única de sua poesia.

Helder/10